As
manifestações organizadas e sistemáticas em vários pontos do Brasil não podem
ser desconsideradas e nem lidas apenas sob um ponto de vista. Vários são os
fatores que proporcionam essa nova realidade em um país que sempre foi
caracterizado por um povo passivo diante de injustiças sociais. E isso tudo é
sintomático. Não se trata de algo casual ou descontextualizado. A mídia
convencional não tem condições de minimizar os efeitos disso, pois a tecnologia
fez com que qualquer pessoa, via seus perfis pessoais na Internet e
equipamentos móveis, reportasse o que tem ocorrido há alguns dias em todo o
País.
Vamos,
porém, a alguns aspectos que podem falar sobre a origem disso. Há uma forte e
crescente insatisfação de uma parte dos brasileiros com a corrupção
generalizada nas instituições políticas e partidárias formais. A popularização
do uso de redes sociais virtuais também colabora para que seja mais fácil
chamar a mobilização de um grande número de pessoas (mais de 60 mil se somarem
todos os pontos de manifestações). As más notícias sobre inflação dos preços
dos produtos e serviços e risco de perda de poder de consumo também ajudam a
compor um cenário geral de descontentamento popular.
Mas
quero olhar sob outro prisma essas manifestações. A Bíblia deixa claro que
todos são livres para se expressarem da maneira que desejarem. Deus concedeu o
livre arbítrio, ou seja, a possibilidade real de decisão autônoma sobre a vida.
E quem participa de manifestações assim tem todo o direito de caminhar
pacificamente em prol de uma causa na qual acredita. Há liberdade, também, para
os que preferem realizar caminhadas de oração e compreendem que também estão
agindo em prol do seu semelhante.
Violência – A Bíblia, no entanto, condena a
violência contra pessoas ou mesmo patrimônio público e privado. Em Provérbios
10:6 é dito que “sobre a cabeça do justo há bênçãos, mas na boca dos perversos
mora a violência” (versão Almeida Revista e Atualizada). Nada justifica
destruir algo que é de todos ou mesmo colocar em risco a vida do semelhante. E,
por mais que os líderes das manifestações aleguem, a existência desse tipo de
ação sempre abrirá espaço para algum tipo de violência. Tanto da parte dos
manifestantes, quanto da parte da polícia que inevitavelmente vai agir para
reprimir o que considerar ameaça à segurança pública.
O palco – Li alguns textos interessantes da
escritora norte-americana e uma das fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo
Dia, Ellen White, a respeito desse assunto. E percebo como realmente
profeticamente já se falava sobre o fato de as grandes cidades se tornarem
palco de ações como essas manifestações. Textos do século retrasado ou passado
são bastante atuais. No livro Testimonies for the church é
dito que “não há muitos, mesmo entre educadores e estadistas, que compreendam
as causas em que se fundamenta o presente estado da sociedade. Os que detêm as
rédeas de governo não são capazes de solver o problema da corrupção moral, da
pobreza, do pauperismo (miséria e extrema pobreza) e da criminalidade
crescente. Estão lutando em vão para colocar as operações comerciais em bases
mais seguras. Se os homens dessem mais atenção aos ensinos da Palavra de Deus,
encontrariam solução para os problemas que os assoberbam”.
As
grandes cidades do mundo são e ainda serão palco de muitas tragédias sociais
como as que assistimos preocupados no Brasil. Mas em vários outros países isso
tem ocorrido regularmente. E infelizmente pouco se vê em termos de avanços
sociais a partir desses embates com repercussões quase sempre violentas. Em
outros livros, Ellen White aconselha as pessoas a viverem fora dos grandes
centros, mas a se envolverem com a missão evangelizadora nas grandes cidades.
Parece um paradoxo, mas não é. Os cristãos, que se pautam pela Bíblia Sagrada,
devem trabalhar para levar a mensagem divina a todos, inclusive nas grandes
cidades. Por outro lado, a vida em lugares mais afastados oferecerá melhores
condições de saúde mental e física.
O
que as grandes cidades talvez precisem tanto não são passeatas, originalmente
pacíficas, mas que dão margem em seu entorno a vandalismo e violência
generalizada. As grandes cidades precisam de uma intervenção de Deus. E isso se
dará por meio de pessoas realmente motivadas pelo Espírito Santo que deverão
fazer a diferença na sociedade. Mas e as injustiças sociais desse mundo? Ao que
tudo indica e podemos ver, são consequência do pecado e não irão cessar, nem
pela realização de passeatas ordeiras, muito menos porque alguns estão
quebrando tudo o que vem à frente ou colocando fogo em veículos. Serve para
nossa reflexão. O conflito é outro…
Por Felipe Lemos, jornalista.
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