terça-feira, janeiro 16, 2007

Olhos bem abertos


A visionária obra do escritor George Orwell, chamada 1984, escancarou a realidade de governos ditatoriais que não se cansavam de observar diariamente a vida da população em busca de possíveis demonstrações de rebeldia contra o sistema político. O conceito daquele que tudo vê do chamado "Grande Irmão", ou, em inglês, "Big Brother", transformou-se mais recentemente em um estilo de programa de televisão de grande audiência e efeitos questionáveis. Aliás, no Brasil foi copiado esse modelo europeu de reality show (ou show da realidade) em que pessoas pré-selecionadas pela emissora de TV ficam confinadas em uma casa durante meses e são eliminadas do programa semanalmente até restar um vencedor que embolsa um prêmio em dinheiro.
O Big Brother Brasil garante bom público porque proporciona imagens diárias dos participantes em sua intimidade. Esse fenômeno televisivo envolve alguns aspectos que nos levam a determinadas reflexões. O grande objetivo dos participantes, ao longo dos programas, parece ser não apenas o de ganhar R$ 1 milhão, mas o de adquirir repentina fama e sucesso. Ou seja, o Big Brother Brasil se tornou verdadeiramente uma maneira rápida e eficaz de aumentar o saldo na conta e, ao mesmo tempo, render notoriedade por um bom tempo e, obviamente, mais dinheiro.
Raciocine comigo e pense se um cristão genuíno precisa de fama para ser verdadeiramente feliz ou influenciar positivamente as pessoas ao seu redor. Imagine se Jesus Cristo precisaria falar palavrões na frente de uma câmera, trair a esposa com outra mulher em um programa de televisão ou agir de maneira desonesta para ter sucesso. Não há como imaginar realmente.
Já que o Big Brother tem a ver com olhos, pense somente nesta frase de Cristo, registrada pelo evangelista Mateus: "A lâmpada do corpo são os olhos. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, se a luz que há em ti são trevas, quão grandes são essas trevas." Isso vale tanto para quem vê como para quem é visto. O que as pessoas em um programa assim desejam realmente mostrar para os olhos alheios? Uma conduta digna de ser imitada? Ao mesmo tempo, vale a pena refletir sobre o tipo de programa que você está assistindo na televisão ou na Internet atualmente. Talvez seja tanto lixo que seria melhor desligar e ler um livro ou dormir.
O outro apelo do programa é, sem dúvida, a curiosidade humana. Todos somos extremamente curiosos e geralmente o interesse na vida alheia está conectado ao péssimo hábito de falar mal dos outros ou bisbilhotar. Por que é tão importante saber como são as pessoas enquanto comem, bebem, dormem ou tomam banho? Para depois, na rodinha de amigos, quem sabe na rodinha virtual do Orkut, falar mal delas? O questionamento é, na verdade, se isso é o mais importante nas boas relações interpessoais ou se realmente essencial é contribuirmos definitivamente para que as pessoas tenham mais princípios. Você, se assiste ao Big Brother Brasil, gasta um generoso tempo tentando saber o que se passa na vida íntima de pessoas enquanto poderia aproveitar bem essa oportunidade para estender a mão a quem realmente necessita de orientação, conselho, uma palavra bem colocada.
Em vez de investir o restante do tempo falando mal da moça que disse aquilo, do rapaz que falou não sei o quê, você terá tempo de sobra para orar por quem precisa e abrir a Bíblia e mostrar sábios ensinamentos a quem está em busca de um caminho seguro em sua vida. Já que Big Brother tem a ver com olhos, você, que é esperto, abra bem seus olhos antes de olhar para certos lados!

Felipe Diemer de Lemos, jornalista e mantenedor do blog Realidade em Foco.

Por que gostamos de música


Na revista Veja desta semana (10/01) há um artigo interessante que tenta responder à pergunta: Por que fazemos e gostamos de música? O livro que o artigo toma como base é This Is Your Brain on Music [Esse é seu cérebro na música), lançado no ano passado nos Estados Unidos. Seu autor, o neurocientista americano Daniel Levitin, da Universidade McGill, em Montreal, Canadá, comandou uma equipe que realizou exames de ressonância magnética no cérebro de treze pessoas enquanto elas ouviam música. "O resultado do trabalho é a mais detalhada descrição já obtida pela ciência da – para usar as palavras de Levitin – 'refinada orquestração entre várias regiões do cérebro' envolvidas na 'coreografia musical'", diz Rosana Zakabi, autora da matéria.

Segundo Veja, a equipe de Levitin desvendou processos neurológicos que até então tinham escapado aos pesquisadores. Um dos mais surpreendentes é que a percepção musical não é resultado do trabalho de uma área específica do cérebro, como ocorre com muitas atividades, mas da colaboração simultânea de uma grande quantidade de sistemas neurológicos.

"Uma conclusão da pesquisa é que muito do que se imagina ser o som do mundo exterior ocorre na verdade dentro do cérebro. As moléculas de ar que fazem vibrar nossos tímpanos não têm em si as variações entre sons graves e agudos. Elas oscilam numa determinada freqüência que o cérebro mede; a partir disso, ele constrói uma representação interna com variações de tonalidade sonora. É similar ao que acontece com as ondas de luz, que são desprovidas de cor. É o cérebro e o olho que constroem as cores medindo a freqüência das ondas. Levitin nota que o cérebro não apenas produz uma representação interna do som, mas também lhe dá significado.

"No laboratório, o cientista percebeu que, quando as pessoas ouvem uma música da qual gostam – e não uma melodia desagradável ou um ruído qualquer –, uma área ativada é o cerebelo. Trata-se de uma grande surpresa científica. Em termos de evolução, trata-se de uma das partes mais antigas do cérebro [sic], responsável pela coordenação motora, não envolvida com as emoções. Por que então só é ativada quando o ouvinte gosta da música? A resposta encontrada pelos cientistas é a seguinte: quando se ouve uma música, o ouvido envia o som não apenas para regiões especializadas do cérebro, mas também para o cerebelo, que se 'sincroniza' com o ritmo da música, tornando possível acompanhar a melodia. Levitin diz que parte do prazer da música é o resultado de uma espécie de jogo de adivinhações: o cerebelo tenta prever a próxima batida. Se acerta, ótimo. Melhor ainda se é surpreendido por uma mudança no ritmo, pois o cerebelo parece ter prazer no processo de sincronização."
Essa descrição técnica não lhe soa como design inteligente?

Por que gostamos de música e fazemos música? A resposta não seria: Porque fomos criados para gostar dela? Creio que sim.

Michelson Borges, jornalista e mantenedor do blog,
www.michelsonborges.com