terça-feira, julho 24, 2007

O Paradoxo do Rio 2007

Os jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro evidenciam alguns aspectos que todos nós já conhecemos em se tratando de esportes. O desejo de superação pessoal dos atletas, a busca pelas melhores marcas e a expectativa das torcidas pela conquista das medalhas.

Nada disso é novidade, porém neste evento há um ingrediente um pouco diferenciado. É que o Rio de Janeiro parece ter inventado uma nova realidade (uma nova cidade) que sobrevive essencialmente dos jogos enquanto a outra cidade, fora dos estádios e dos ginásios, continua existindo e parece não ser mais ouvida. Chamou-me a atenção reportagens que mostraram o público que não compareceu aos centros em que ocorriam as provas e competições porque não tinha dinheiro para pagar a entrada. É curioso isso.

O evento não deveria ser elemento de integração, especialmente entre o povo que atua como anfitrião? A idéia original realmente era essa, contudo a prática diz outra coisa.

Mas o mundo é assim mesmo, sempre um paradoxo, uma contradição permanente. E os jogos não seriam diferentes. Dois "Rios de Janeiro": um fora do Pan e outro imerso no Pan. Engraçado é constatar que o ser humano é campeão e medalhista de ouro em criar mundos fictícios para fugir da realidade. Temos a habilidade de escapar mentalmente, por alguns instantes ou até durante um tempo maior, da vida que nos pertence para tentar viver outra.

É mais fácil sonhar acordado a deparar com um cotidiano em que se faz necessária a verdadeira fé da qual trata a Bíblia. No Rio de Janeiro caseiro, do dia-a-dia, de toda a hora, continuam ocorrendo os assaltos, os seqüestros, o trânsito continua enlouquecido e as pessoas desconfiam muito uma das outras.

Já no Rio de Janeiro fabricado, os jogos são uma tentativa de entorpecer o público que já sofre com tanta corrupção política, catástrofes aéreas e desmoralização geral das referências que todos nós um dia tínhamos. E no Rio real, ou seja, na vida original (que pode ser em qualquer lugar do mundo), somente a verdadeira fé garante sobrevivência. Não tem nenhum narcótico psicológico que nos fará esquecer permanentemente que precisamos saber nos relacionar com Deus e com as pessoas ao nosso redor.
Deveremos, efetivamente, aprender a respeito disso e agir. Práticas como a oração serão testadas na vida de verdade, porque é o antídoto eficaz à desilusão completa, ao desespero e à loucura. A frase paulina de "orar sem cessar" faz todo o sentido nesse contexto. Seremos capazes de ficar em pé na dura realidade somente se soubermos, primeiro, dobrar os joelhos e desenvolver comunhão com o Céu. Porque o show de medalhas, as superações dos atletas, os recordes quebrados e os detalhes impressionantes dos esportes que mal conhecemos no Rio fabricado vão passar rapidamente.
Restará o Rio real, seus problemas, seus desafios, sua lógica e teremos de enfrentá-los com firmeza, amor e otimismo. Não com sonhos acordado.
Felipe Lemos é jornalista e assessor de imprensa da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Santa Catarina.

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